24.9.09

Mário Eloy






A 15 de Março de 1900 nasce em Algés e, com ele, a génese do segundo Modernismo português: Mário Eloy de Jesus Pereira. Filho de um ourives e neto de actores, herda dessa parte da família o gosto pela arte cénica, passando por uma breve aprendizagem de representação em palco.

Desejoso de descobrir o seu próprio caminho, acompanhando as vanguardas europeias e desapontado com o ensino na Escola de Belas-Artes de Lisboa, Mário Eloy decide, aos 19 anos, aventurar-se numa viagem até Madrid, onde frequenta o Museu do Prado.

Essa procura da diferença é incentivada por um espírito atormentado entre angústias, visões e paixões. De regresso a Portugal, em 1924, participa pela primeira vez numa exposição no Salão da Ilustração Portuguesa, sendo apelidado de “talentoso criativo moderno”.

Trabalha em sintonia com a primeira geração do Modernismo português, vivendo as preocupações de um século à beira da ruptura e as revoluções que exaltam o povo. Eduardo Viana será uma personalidade muito importante no desenrolar das obras de Eloy e convida-o a participar na primeira Mostra de Arte Moderna, que organiza em 1925.Mais tarde, em 1943, António Dacosta – um surrealista português – dirá acerca da obra de Mário: “A pintura de Eloy aperta como um nó cego uma humanidade actual e confusa, triste e emudecida.” É uma pintura que anuncia uma preocupação social, essencialmente atenta ao sofrimento humano.

É altura de partir para Paris, onde depois de algumas exposições descobre, em 1927, que Berlim era a cidade onde poderia expandir todo o seu entusiasmo e criatividade. Berlim estava aberta à novidade de uma forma mais objectiva, permitindo-lhe encontrar aí o seu caminho como expressionista. Os seus retratos são tão introspectivos que os modelos se vêem como não queriam ser retratados, mas acreditando que estão representados como são na realidade e que isso os ajuda a conhecerem-se a si próprios.

Mário Eloy tenta ler para além das aparências: interessam-lhe a expressividade das sensações e emoções interiores, optando frequentemente pela deformação ou desfiguração caricaturada.

Em 1928, tem um filho e casa-se. É altura de começar a escrever em revistas alemãs; escrita que traz para Portugal, transformando-se num pintor-poeta. Dois anos mais tarde, é indicado para a Sociedade de Artistas Plásticos de Berlim, onde tem a honra de ser o único estrangeiro.

Em 1932, regressa sozinho a Portugal, para participar em exposições estatais e expor com os Artistas Independentes. Nesse ano ganhou o “Prémio Amadeo Souza-Cardoso”.

Quando se inicia a Segunda Guerra Mundial, a mulher foge da Alemanha para a Holanda com o filho. Por seu lado, Mário Eloy, artista errante e inquieto, cede aos fantasmas da imaginação, e os seus quadros de 1939 entram no campo do delírio.

Em 1945, a doença rara de que sofre agudiza-se e é internado na Casa de Saúde do Telhal: a loucura fá-lo perder todas as genuínas capacidades. Morre a 5 de Setembro de 1951, deixando uma obra em que se cruzam a expressão individual e o compromisso social.


Fonte: Texto adaptado de Ferreira, Isabel Corte (s/d). Mário Eloy (1900-1951). CAMJAP, Fundação Calouste Gulbenkian

3 comentários:

sonjita disse...

É realmente talentoso e bom de ser ver... acho que já vi alguns trabalhos deles mas não sei bem onde!

BJKa

elsafer disse...

expressionismo alemão ... hum , a distorção das formas para exprimir a visão do artista...
as cores que o pintor usa , em si, são uma forma de nos questionar , nos fazer entrar no seu mundo ... cores quentes e vibrantes.
as suas figuras ( nos quadros da fase mais" distorcida") fazem-me sentir envolvida em histórias um pouco perturbadoras .

Unknown disse...

É um bom pintor, mas da mesma época prefiro o Amadeu Souza-Cardoso.

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